quarta-feira, 29 de outubro de 2014

'Amor perverso' chega aos palcos cariocas. Carregada de uma alta voltagem poética e contornos metafóricos, a segunda adaptação brasileira da peça expõe os conflitos de uma personagem através de três representações

No elenco da peça 'Amor perverso', Claudia Ohana vive Victoria, Helena Ranaldi interpreta Eva, e Regiane Alves personifica Amapola
Ao mergulhar em profunda reflexão interior, uma mulher sente todos os pesares e dores de uma perda amorosa. Primeira obra dramática da autora chilena Inés Margarita Stranger, o texto “Cariño Malo” — traduzido para o Brasil como “Amor Perverso”, expressão extraída da letra de um bolero que se popularizou nos anos 1960 e empresta título à peça — integra a “Antologia Bilíngue de Dramaturgia de Mulheres Latino-americanas”, estudo de gênero lançado em 1996 por Graciela Ravetti e Sara Rojo, que contempla ainda “A Beata Maria do Egito”, de Rachel de Queiroz, e “Del Sol Nasciente”, da argentina Griselda Gambaro.
Carregando uma alta voltagem poética e contornos metafóricos, a segunda adaptação brasileira de “Amor Perverso” expõe os conflitos de uma personagem através de três representações: Victoria, vivida por Claudia Ohana, Eva, interpretada por Helena Ranaldi, e Amapola, por Regiane Alves. Montada nos palcos brasileiros uma única vez, em âmbito universitário, a peça chega ao Teatro do Leblon na próxima terça-feira, dia 28, com direção de Luiz G. C. Valcarazas e produção de Lucia Regina Souza, preservando o frescor do ineditismo.
O pontapé inicial para criar uma montagem para a peça chilena veio há 24 anos, quando o jovem integrante da companhia paulista de teatro de bonecos “A Cidade Muda”, Luiz G. C. Valcazaras, participava do 12º Festival Internacional de Teatro de Manizales, na Colômbia. Lá, o diretor teve contato com “Cariño Malo”, cuja montagem original fazia parte da grade de programação do festival. Desde então, ele guardava o desejo de trazer ao Brasil a sua versão para a corpulenta narrativa. 
Levado à cena quando o general Augusto Pinochet se despedia da Casa de La Moneda, depois de quase duas décadas no poder, o texto joga com imagens e situações fragmentadas, deixando o espectador enxergar através do enredo do amor esfacelado a sombra de uma das ditaduras mais brutais instauradas na América Latina. Em meio às lembranças da protagonista, sobressaem vozes de desaparecidos, que atormentam e condenam seu parceiro a todo instante, interceptando com seu ruído sombrio a comunicação do casal.
No palco do Teatro Leblon, as três atrizes, que contracenam pela primeira vez, se dividem entre representações dos diferentes estados assumidos pela mesma mulher, em seu embate contra o luto da perda que “congelou no desuso cada um de seus sorrisos”. Entre uma fala e outra, a atriz Cláudia Ohana apresenta seus lamentos através de dolorosos cânticos. Ela, que já interpretou inúmeros musicais no teatro, cinema e novelas, empresta vida simultaneamente à protagonista de “Callas”, espetáculo que conta a história da cantora lírica, dirigido por Marília Pera, no Teatro Itália, em São Paulo.
“‘Amores reversos’ é metafórica e não tem uma estrutura linear. A gente se mistura entre as lembranças de forma nada nítida. Nas falas, me reconheço muitas vezes e também muitas pessoas próximas. Acho que todo mundo que já amou se identifica. A peça fala do sofrimento de uma mulher que passa por um término de relacionamento e o medo de passar por isso. É uma história universal”, conclui a veterana.

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